Dan Brown desenvolveu um script, ou se quiser chamar, um estilo, e como ele se mostrou bem sucedido, pra que arriscar? Dito isso, você sabe que O Símbolo Perdido tem a mesma estrutura do best-seller mais famoso do autor, O Código Da Vinci: capítulos curtos e rápidos, geralmente intercalando o herói e o vilão. Cada capítulo sempre termina com excelentes ganchos, sempre deixando uma grande expectativa. Com esse clima de suspense crescente, o livro se torna viciante, pois a leitura flui rápida e sempre com aquele gosto de "o que vai acontecer agora?".
O livro acompanha mais uma vez o simbologista Robert Langdon (também conhecido como o simbologista com a cara do Tom Hanks ;)). Desta vez, Langdon é atraído à capital dos Estados Unidos, Washington D.C. com o pedido de realizar uma palestra, pelo seu amigo e mentor de longa data, o maçom Peter Solomon, diretor do Instituto Smithsonian. Mas a verdade é que o seu amigo foi raptado, e para encontrá-lo, Langdon tem que resolver um enigma envolvendo a Maçonaria e as pistas deixadas pelos fundadores dos próprios States, eles mesmos mestres maçons.
Nesta jornada, Langdon irá contar com a ajuda da irmã de Peter, Katherine Solomon, além de outros membros da maçonaria. E terá que lidar também com a CIA e sua poderosa diretora, Inoue Sato, que (aparentemente) antagoniza e atrapalha os esforços de Langdon. O raptor, autodenominado Mal'akh, espera encontrar um tesouro escondido pelos maçons, tesouro esse que supostamente lhe daria conhecimento e poderes que o elevariam a categoria de um deus.
Apesar da leitura do livro fluir bem e ser interessante, no final, a história é um tanto decepcionante. Nem estou considerando os fatos "pseudo" do livro (pseudo-científicos, pseudo-históricos, etc.), afinal, considero o livro como entretenimento puro e descompromissado.
(Melancolia I, quadro citado no livro. Se você for ler o livro, não esqueça de guardar esse link pra ver o quadro em alta resolução.)
O fato é que uma boa parte do livro o autor passa falando da ciência noética, uma suposta disciplina que uniria o conhecimento científico com os ensinamentos místicos antigos. E isso soa um tanto chato, muito autoajuda pro meu gosto, especialmente depois do autor dar uma grande ênfase no assunto. E apesar dessa ciência noética ter relação com o mistério que Langdon persegue, ela não faz realmente parte do segredo, sendo meio dispensável em boa parte da trama.
Mas claro que o autor não deixa esse tema boiando, ele o insere fracamente no arco da perseguição ao sequestrador, mas depois que ele passa, no final do livro, volta com força a ela, na explicação do "mistério maçônico". Afinal, como Dan Brown revela, o grande segredo nada mais é do que "você é divino", o que pode ser traduzido em termos de autoajuda muito conhecidos, como pensamento positivo, the secrets, etc...
Fazendo uma comparação deste O Símbolo Perdido com o outro livro que eu li do mesmo autor, o do Da Vinci, o mais novo livro tem a mesma estrutura deliciosa de ser lida. Mas com uma trama bem inferior e com personagens menos carismáticos, afinal, não dá pra comparar a irmã de um maçon com a tatatata...taraneta de Jesus! =P
(Desta vez, os mistérios em vez de anagramas usam muitos quadrados mágicos.)
Como de costume, algumas citações e pequenos trechos do livro:
O prólogo:
O segredo é saber como morrer.
Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer.
O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue.
Beba, disse ele a si mesmo. Você não tem nada a temer.
Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, a perna esquerda da calça arregaçada até o joelho e a manga direita enrolada até o cotovelo. De seu pescoço pendia um pesado nó feito uma corda - uma "atadura", como diziam os irmãos. Nessa noite, porém, assim como os companheiros que assistiam à cerimônia, ele estava vestido de mestre.
Dan Brown, via Robert Langdon, citando Arthur C. Clarke:
Sato tornou a baixar os olhos para Langdon e esfregou o pescoço.
- Instalar um cabo telefônico é algo muito diferente de ser um deus.
- Para os homens modernos, pode até ser - retrucou Langdon. - Mas, se George Washington soubesse que nós viramos uma raça com o poder de nos comunicar através dos oceanos, voar à velocidade da luz e pisar na Lua, ele iria supor que nós nos transformamos em deuses, capazes de tarefas milagrosas. - Ele fez uma pausa. - Nas palavras do futurista Arthur C. Clarke: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia."
Adorei a citação de Clarke, mas quem é que consegue voar à velocidade da luz hoje em dia? Tirando, evidentemente, a luz e outras radiações eletromagnéticas (se isso pode ser resposta de 'quem').
Mensagem feel good/autoajuda que permeia o livro (possível spoiler):
Por fim, Katherine sussurrou:
- Você está bem? Quer dizer... está bem mesmo? - Ela o soltou, baixando os olhos para a tipoia e as ataduras onde antes ficava sua mão direita. Lágrimas tornaram a marejar seus olhos. - Eu sinto... eu sinto tanto.
Peter deu de ombros, como se aquilo não tivesse a menor importância.
- É só carne mortal. Corpos não duram para sempre. O importante é você estar bem.
A resposta tranquila de Peter calou fundo em Katherine, fazendo com que lembrasse todos os motivos pelos quais amava o irmão. Ela acariciou sua cabeça, sentindo os laços inquebrantáveis da família... o sangue em comum que corria por suas veias.
O importante é estar bem e saber como morrer.
Dan Brown pode pirar no lance esotérico/místico, mas não dá pra acusar o cara de não ser antenado. Ele fala até sobre mídias sociais:
Langdon continuou em silêncio, perguntando-se aonde ela queria chegar com essa ideia.
- O que estou dizendo é o seguinte: duas cabeças pensam melhor do que uma, mas não são duas vezes melhor, e sim muitas vezes melhor. Várias mentes trabalhando em uníssono ampliam o efeito de um pensamento... de forma exponencial. É esse o poder inerente aos grupos de oração, aos círculos de cura, aos cantos coletivos e às devoções em massa. A ideia de uma consciência universal não é um conceito etéreo da Nova Era. É uma realidade científica palpável... e dominar essa consciência tem o potencial de transformar o mundo. Essa é a descoberta fundamental da ciência noética. E o que é mais importante: isso está acontecendo agora. É possível sentir essa mudança à nossa volta. A tecnologia está nos conectando de formas que jamais imaginamos: veja o Twitter, o Google, a Wikipédia e tantas outras coisas... tudo isso se une para criar uma rede de mentes interconectadas. - Ela riu. - E garanto a você: assim que eu publicar meu livro, todo mundo vai começar a postar no Twitter coisas do tipo "aprendendo sobre ciência noética", e o interesse por essa disciplina vai explodir de forma exponencial.
As pálpebras de Langdon estavam incrivelmente pesadas.
- Sabe que até hoje eu não aprendi a mandar um twitter?
- Um tweet - corrigiu ela, rindo.
Ei, não me sigam no twitter. Eu só falo merd@ lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário