Quando eu soube que iriam fazer uma adaptação cinematográfica do livro Comer Rezar Amar, pensei duas coisas. A primeira, é que o filme iria faturar um bocado (previsão que estou esperando para confirmar). E a segunda, é que o filme seria uma bomba, de mediano para medíocre. Esta previsão, pelo menos, está confirmada. O filme Comer Rezar Amar (no original Eat Pray Love), nem de longe é tão bom quanto o livro que o originou.
No filme, Julia Roberts vive Elizabeth "Liz" Gilbert, uma mulher em torno dos trinta anos, casada e escritora. Entretanto, falta algo na vida de Liz, e ela não sabe exatamente o que. Na verdade, ela busca se encontrar, e para isso, vira a mesa. Ela se separa e passa por um divórcio complicado, se apaixona por um rapaz mais novo, mas mesmo assim, ainda sente que algo falta em sua vida. E é aí que ela resolve passar um ano viajando. Nesta viagem, ela pretende conjugar os três verbos que dão nome ao filme.
Na primeira parada, na Itália, pretende se esbaldar com a comida italiana, comendo as famosas massas e tudo o mais. Claro que não é só isso, ela também pretende estudar italiano. Depois de quatro meses, o destino é a Índia, onde ela passará outros quatro meses num ashram, uma espécie de centro para retiro espiritual, onde ela finalmente encontrará um certo equilíbrio se perdoando. E finalmente, ela passará os últimos quatro meses na Indonésia, visitando um xamã local que ela conhecera numa viagem passada (a trabalho), e que previra que ela perderia tudo, mas que voltaria ali e também recuperaria tudo. E, pra finalizar os verbos, ali, em Bali, ela conhecerá também o grande amor da vida dela, o brasileiro Felipe (Javier Bardem).
Como toda jornada (principalmente as espirituais), o que vale é o caminho, a própria jornada (e tudo o que se encontra nela, como as pessoas e amizades), e não o destino. Por isso, não importa que o parágrafo acima diga, resumidamente, tudo o que acontece. O que importa é como acontece. Ou, pelo menos, é assim que é no livro, porque no filme, o que seria uma jornada deliciosa de se acompanhar, se torna até mesmo tedioso.
O filme Comer Rezar Amar é bem mais linear do que o livro. Talvez por isso, gaste-se no início do filme, um bom tempo mostrando a vida da personagem de Julia Roberts. O livro tem uma pequena introdução e já inicia a jornada, nos revelando aos poucos, por meio de lembranças (que seriam flashbacks, se fosse no filme), a história de Liz.
Mas a verdade é que esta mudança não é realmente o maior problema do filme. Comer Rezar Amar sofre muito com a atuação da sua protagonista. Tome por exemplo, a estada de Liz em Roma. Se recuperando ainda das feridas na alma, ela se joga com a mesma intensidade com que se jogava nos relacionamentos, na busca do prazer. Aqui, o prazer gastronômico, e não é à toa que ela diz que teve um "relacionamento" com o seu prato (creio que era um espagueti). No filme, apesar de recitar as mesmas palavras, é impossível ver Julia Roberts tendo essa mesma paixão. É até compreensível que a sua outra paixão, pelas palavras, pela língua italiana, tenha sido minimizada no filme (afinal, é complicado mesmo expressar em imagens, o amor pelas palavras). Mas mesmo assim, é uma perda, afinal, era uma paixão contagiante.
Outro ponto que se perdeu no filme Comer Rezar Amar, foi a identificação da pessoa do lado de cá, com a personagem Liz Gilbert. No livro, se expondo em tom confessional, é fácil nos relacionarmos com ela, nos colocarmos em seu lugar. Essa conexão se perde completamente no filme, fazendo com que deixemos de ser acompanhantes na jornada dela, para nos tornarmos meros espectadores. E se Julia Roberts não ajuda, o diretor Ryan Murphy tampouco. Basta ver as cenas da "depressão" de Liz em Nova York, que além de clichês, não dão ideia de uma mulher destruída por dentro.
Mesmo não levando em conta as comparações com o livro, o filme Comer Rezar Amar ainda continua fraco. Além dos problemas de Julia como a protagonista, o filme usa e abusa dos planos "pra turista ver". Sobretudo em Roma e em Bali (Indonesia), as paisagens exuberantes (na primeira criadas pelo homem, na segunda, pela natureza), são bastante exploradas. Como propaganda turística destes dois destinos, o filme é perfeito.
Quem for apenas ver o filme, pode até pensar, e com alguma razão, que Comer Rezar Amar é apenas auto-ajuda travestido de história pessoal. Sim, há momentos em que o discurso é bem típico de auto-ajuda, como na parte em que Liz visita umas ruínas em Roma, e disserta sobre mudanças; ou mais para o final, quando ela recebe o sábio conselho de que perder o equilíbrio por amor pode ser uma maneira de ter uma vida equilibrada. Sim, existem momentos assim no livro também, mas no filme eles saltam aos olhos, enquanto no livro, eles estão entre uma piada aqui ou um sarcasmo acolá.
Enfim, mesmo com um elenco de apoio correto (e alguns, com atuações excelentes, como no caso do velho xamã), o filme perde muito com a sua protagonista que não conseguiu dar vida a uma mulher real. Mas a culpa não é só dela, mas também do diretor e roteirista Ryan Murphy e da roteirista Jennifer Salt, que em nome das belas imagens, retiraram boa parte do texto que é, enfim, o que faz Comer Rezar Amar ser interessante. Leia algumas partes do livro Comer Rezar Amar, e comprove que certas coisas continuam bem melhores num texto do que numa bela imagem.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
10 comentários:
estava com receio de ver o filme, gostei muito do livro e gosto muito das suas resenhas críticas, daí agora o receio aumentou. rs
Eu acho que se vc for ver o filme sem expectativa dele ser bom que nem o livro, o filme é até passável.
Agora, se vc é fã mesmo do livro, acho que só vai gastar uns tostões vendo o filme.
gostei muito do livro.
inclusive está quase todo grifado, partes em q consegui achar respostas pelos problemas dela, muito engraçado, identificação mesmo.
Se vc for ver o filme, então vai ver como se não fosse adaptação do livro. Aí vc pode até gostar.
Li o livro e vi o filme. Não dá pra comparar, mas podem assistir tranquilamente o filme, contemplando as belas paisagens e a atuaçãom, beleza e carisma de Julia Roberts a toda prova. Não escutem esse "Andarilho"... ele não sabe o que está falando, acreditem em mm!!
Não acreditem em mim, acreditem no(a) anônimo.
hum, eu acredito no andarilho...
Comprei o livro, mas, ainda não li... agora tava louca prá ver o filme, porém diante do teu comentário vou ler logo o livro. bjs
vou ver esse filme só pela Julia Roberts... Gostosa...
Amei o livro e recomendo!
Ainda vou ver o filme, mas sem expectativas... é sempre assim, os livros são, quase sempre, melhores do que os filmes.
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