Nos últimos tempos, com a tecnologia e principalmente a web, surgiu o conceito de mash-ups. Basicamente, um mash-up é uma mistura, podendo ser tanto de diferentes sites (combinando os mapas do google com os dados de "test drives" do gpguia, para criar o bitchmaps, por exemplo), ou de diferentes mídias (combinando imagens do filme A Queda com qualquer áudio engraçadinho, para formar um dos maiores memes da internet, a do Hitler esbravejando em seu bunker, como outro exemplo). Dito isso, podemos classificar o filme O Último Exorcismo (ou no original The Last Exorcism) como um verdadeiro mash-up, que toma "emprestado" elementos de filmes como A Bruxa de Blair ou [REC], e O Exorcista ou O Exorcismo de Emily Rose.
Usando o formato de mockumentary, ou seja, é filmado como se fosse um documentário, mas falso, O Último Exorcismo segue a onda iniciada por A Bruxa de Blair (e mais recentemente "revitalizada" por Atividade Paranormal). Em comum com esses filmes temos principalmente a câmera na mão, o que dá um ar mais "real" ao filme (e em comum também, tirando o reverendo e a menina possuída, os outros personagens são nomeados de acordo com os nomes dos atores).
O Último Exorcismo acompanha um documentário sobre o reverendo Cotton Marcus (Patrick Fabian), filho de uma longa linhagem de pastores. Estando numa crise de fé, em que agradece mais aos médicos do que a Deus pela cura de seu filho (o que está corretíssimo, aliás), o pregador exibe para a câmera como é o seu cotidiano, desde as suas pregações até os pedidos para exorcismos. As cenas iniciais contém algumas das melhores cenas do filme, que mostram como o pregador tem controle sobre suas ovelhinhas, como consegue pregar sobre receitas (essa, nem a Ana Maria Braga faz), e enfim, como tudo não passa de business, especialmente o negócio de exorcismos.
Mesmo tendo um formato de documentário, isso não quer dizer que o filme não tenha edição. Ao contrário de alguns outros filmes do mesmo gênero (terror/mockumentary), em O Último Exorcismo temos várias cenas que a câmera documental dá lugar no tempo para algo gravado anteriormente, como é o caso nas cenas em que o reverendo Marcus faz a sua "mágica" ao analisar a menina possuída, Nell Sweetzer (Ashley Bell), intercalando as cenas do momento com cenas em que o próprio reverendo explica algumas de suas armações.
Nessa linha, o filme, dirigido por Daniel Stamm, é até divertido, passando-se por um filme de golpe. Mas lá pela metade, quando o aspecto "terror" finalmente aparece, dando um ar de "mistério" à possessão de Nell, o filme se perde. O fato é que ele gasta boa parte do tempo tentando deixar em dúvida o reverendo, aqui fazendo às vezes de espectador, quanto a possessão verdadeira ou não, de Nell. O problema é que, pra plateia, isso já é fato consumado (seria uma verdadeira surpresa se tudo não passasse de problemas mentais/psicológicos da menina).
E se a luta de Marcus para provar que tudo apenas não passa de problemas mundanos é uma luta perdida (pros espectadores, desde o começo), ela pelo menos serve para ilustrar o conflito de crença X ceticismo, numa curiosa inversão de papéis. Aqui, o representante da igreja (que não é a católica) é o cético, enquanto a maioria dos outros personagens parece crer sem dúvidas no demônio.
Sendo um filme de baixo orçamento, não dá pra esperar de O Último Exorcismo grandes efeitos. De fato, o filme aposta em alguns clichês clássicos para dar alguns sustos no espectador (a menina calma que de repente pula em cima do câmera, por exemplo). Nesse ponto, a única cena um pouco mais interessante é quando a própria Nell "endemoniada" pega a câmera e sai gravando. Praticamente, um vlog do capeta. ;) O resultado final não é dos mais originais, mas a ideia foi interessante. E claro, tirando um único momento ginasta contorcionista de Nell, parece que esse demônio (que tem até nome, Abalan) não faz muita coisa com a pessoa.
Com um final horrível, com uma grande "forçação" de barra e uma salada completa, O Último Exorcismo é um daqueles filmes que até tinha uma ideia interessante (o reverendo "golpista" filmando o seu último exorcismo e acaba encontrando algo real), mas tomando emprestado elementos de outros filmes do mesmo gênero, acaba tendo uma execução ruim. Nem sempre os mashups dão certo.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
P.S. A única coisa que me surpreendeu de verdade no filme foi a presença de Iris Bahr atuando como a produtora do filme-documentário. Isso porque há alguns anos li esse livro dela (que é muito mais divertido que o filme): Aventuras de uma Pseudovirgem - Minhas viagens pela Ásia em busca de sexo.
Um comentário:
Não gostei muito, o filme ficou sem pé e sem cabeça....
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