A modernidade e o fluxo constante de informações são excelentes em vários aspectos, mas em pelo menos um, piora as coisas. Sendo bombardeados por trailers, fotos e notícias sobre filmes, muito daquela gostosa surpresa em descobrir o filme acaba se perdendo. Claro, hoje isso é uma realidade e o cineasta tem que se adaptar ao seu tempo. Infelizmente, nem todos se deram conta disso. Pra minha sorte, não tinha visto nenhum trailer sobre Amor por Contrato (ou The Joneses no original), e pude descobrir na sala do cinema sobre o filme, o que me fez gostar dele, apesar de reconhecer suas (inúmeras) falhas.
Bem, admito que o grande charme de Amor por Contrato é a dupla de protagonistas, David Duchovny e Demi Moore (lindíssima, ainda mais considerando seus quase 50 anos), ambos completamente relaxados e se divertindo muito em seus papéis, e com uma química muito boa entre eles.
Amor por Contrato nos apresenta a família Jones (Os Joneses, do título original), chegando de mudança a uma nova cidadezinha. Duchovny é Steve, o pai da família, enquanto Moore é sua esposa Kate. A família se completa com os adolescentes Mick (Ben Hollingsworth) e sua irmã Jenn (Amber Heard). Logo descobrimos que a família perfeita, daquelas de comercial de margarina, é mesmo de comercial. Ou melhor, um comercial escondido, "self marketing", como é chamado no filme. Empregados e sem nenhum parentesco real, o trabalho deles é vender uma imagem que faça com que os habitantes da cidadezinha os admirem e cobicem. Como os habitantes não podem ser os Jones, o próximo passo é imitá-los. Como? Comprando as mesmas coisas que os Jones possuem. E o marketing se encontra com Freud.
Mesmo não sendo uma família, mas uma unidade de vendas, cada membro tem um arco próprio, nos mesmos moldes de um drama familiar. Infelizmente, estes arcos, apesar de interessantes, acabam sendo mal desenvolvidos. Jenn, por exemplo, começa caricata na sua roupagem de ninfeta-gostosa-comedora-de-homens-mais-velhos, mas acaba se tornando bem humana no final, sem um desenvolvimento adequado. O drama de seu "irmão" Mick não é melhor, sendo que demora para se desenvolver (o que até me fez pensar que tinham deixado o personagem meio de lado) e acaba se mostrando meio clichê.
Kate, que é a líder da unidade de vendas, até tem um bom desenvolvimento como personagem, graças às investidas de Steve, que é o catalisador destas mudanças. Infelizmente, esse bom desenvolvimento acaba ficando em segundo plano, no estranho (mas feliz, seguindo a cartilha hollywoodiana), final do filme. Digo estranho porque é um final meio sem clímax. Mas é sem dúvida, um final feliz. (Como se alguém duvidasse...)
Steve, o "pai", atua como ponte entre o filme e a audiência. Novato no trabalho, é pelos olhos dele que ficamos conhecendo os esquemas marketeiros. Infelizmente, talvez por causa disso, o personagem acaba no final assumindo um tom moralista, talvez pra fazer com que a audiência politicamente correta (o que eu chamo de praga) fique satisfeita. Isso é um tanto decepcionante, uma vez que o personagem montado por Duchovny é deveras charmoso e engraçado (um Hank Moody de Californication sem todas as merdas e a compulsão sexual, basicamente).
Mas o grande problema de Amor por Contrato é que ele não se define. Comédia, drama e romance dão o tom, mas desafinam juntos neste filme. Na primeira metade do filme, ele é mais cômico com pitadas de romance, o que o deixaria classificado como comédia romântica. Simplório e leve, mas gostoso de se assistir. Entretanto, na segunda metade, o filme tenta adquirir tons mais dramáticos, mas soando meio forçado. Tome o uso da música, por exemplo, que tenta impor uma dramaticidade em cena que soa falso demais, especialmente considerando-se alguns tons caricatos (da comédia) já estabelecidos na primeira metade do filme (em especial, sobre o vizinho dos Joneses).
Amor por Contrato é um filme irregular, que tem bons momentos, mas um final um pouco decepcionante. Talvez seja a inexperiência de Derrick Borte como diretor (é seu primeiro longa), que também co-escreve e produz o filme, naquela ânsia de colocar todas as boas ideias juntas. Isso quase sempre dá errado.
Mas enfim, apesar de irregular, Amor por Contrato me agradou. Pela história inusitada, pela comédia interessante (da primeira metade do filme), pelas boas atuações, e principalmente, pelo charme e química dos dois protagonistas. Prova de que um bom "self marketing" funciona.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
3 comentários:
Quase que entrei no cinema pra ver esse, mas daí preferi ver de Pernas pro Ar, por sinal, muito bom e ri d+.
O próximo será esse então.
Um Feliz Ano Novo pra ti!
@letrasaltitando
parece interessante... vou ver o além da vida e depois esse.
Vou assistir. Nem li o post todo para ter surpresas também.
Assisti esses dias o filme "De Pernas pro Ar" eu gostei muito e dei boas risadas.
Recomendo.
Beijos
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