Muitos diriam que se fossem descrever Steve Jobs em uma palavra, usariam "gênio". Tendo lido a sua biografia escrita por Walter Isaacson (um calhamaço de mais de 600 página que vale cada linha), a palavra que me vem à mente quando ouço o nome Steve Jobs é "cretino". De fato, estou até sendo benevolente, pois apesar de sua inegável genialidade comercial, pessoalmente, frequentemente ele foi um canalha. Mas também foi admirável. Se isso soa paradoxal, acostume-se: Jobs era assim mesmo. Um personagem fascinante, cuja história pessoal é inseparável da empresa que criou, a Apple, e cuja cinebiografia Jobs infelizmente falha em retratar.
Dirigido pelo relativamente desconhecido Joshua Michael Stern, o filme Jobs não é um filme ruim, mas se mostra bastante fraco, especialmente por causa de seu roteiro, assinado pelo estreante Matt Whiteley. Englobando um longo período de tempo, desde a década de 70 (com a faculdade e o surgimento da Apple) até o começo dos anos 2000 (terminando com o lançamento do primeiro iPod), o filme peca em mostrar de relance ou apenas mencionar vários episódios importantes da vida de Jobs, como a sua viagem à Índia (mostrada de relance), seu conflito interno por ser adotado (apenas mencionado durante uma "viagem") e especialmente, o relacionamento com sua primeira filha, Lisa, que depois de ser abandonada e relegada por Jobs durante boa parte de sua juventude, aparece magicamente convivendo com ele, depois de um salto temporal no filme. São várias coisas que o filme cita ou mostra rapidamente (como a mulher de Jobs), mas não se aprofunda. A impressão para quem não conhece a história real é uma sensação de incompletude, mostrando acontecimentos que nunca mais serão citados nem concluídos.
Jobs, o filme, reúne um grande conjunto de bons atores coadjuvantes, com destaque para Dermot Mulroney como Mike Markkula (o primeiro investidor da Apple) e Josh Gad como Steve Wozniak (o gênio da engenharia por trás do talento comercial de Jobs). E apesar da boa caracterização de Ashton Kutcher como Steve Jobs, com o visual e imitação de trejeitos merecendo aplausos, a atuação do protagonista deixa um pouco a desejar, se revelando inconstante ao longo da projeção: ora sendo caricato demais (andando como Jobs mais velho), ora faltando expressão (nos momentos mais dramáticos, em que a sua expressão facial falha em mostrar um sentimento).
Steve Jobs era uma pessoa de extremos. Realizou grandes feitos, mas também fez muita merd@ na vida. Com seus paradoxos e idiossincrasias, era também extremamente humano. E tudo isso o filme falha em ser: não se enquadra em nenhum extremo (não é tão bom assim, mas também não é tão ruim assim, ficando naquela área da mediocridade) e também falha em ser humano (Jobs ora é retratado com reverência reservada a um deus, ora se mostra um vilão cartunesco). Se fosse vivo e assistisse este filme, provavelmente teria um de seus famosos ataques de temperamento. Sem deixar de ter uma boa razão.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
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