Às vezes, um filme tem em seu título, um bom resumo do que apresenta. Este é o caso do título original do filme Minhas Mães e Meu Pai, originalmente The Kids Are All Right, ou em uma tradução livre, "As Crianças Estão Bem". É um filme que se define como um drama cômico, cujas melhores piadas estão no trailer, e que aposta como diferencial, a estrutura não convencional da família do drama, composta por um casal de lésbicas e seus filhos.
Em Minhas Mães e Meu Pai, o casal formado pelas cirurgiã/obstetra Nic (Annette Bening) e pela arquiteta/paisagista Jules (Julianne Moore) tiveram dois filhos (uma gravidez pra cada), concebidos por inseminação artificial usando o esperma de um mesmo doador anônimo, Paul (Mark Ruffalo). Ao completar 18 anos e prestes a ir para a faculdade, a filha do casal, chamada Joni (Mia Wasikowska, mais conhecida por Alice), a pedido do irmão mais novo Laser (Josh Hutcherson), entra em contato com a clínica da doação de esperma, esperando conhecer o pai biológico. Paul aceita, e logo acaba entrando na família, especialmente em Jules (sacou?), que passa por uma crise conjugal.
O roteiro de Minhas Mães e Meu Pai, escrito por Stuart Blumberg e Lisa Cholodenko (sendo esta última também a diretora), tem dois grandes defeitos. Bem, são três, se você contar a falta de um lado cômico melhor desenvolvido. Mas bem, primeiro, o roteiro é forçado. Reparem como a personagem Nic, de Benning, é inconstante. Tudo bem, mulheres podem ser inconstantes (mulheres com TPM me apedrejem agora), mas fazer com que o humor da personagem mude só para se encaixar com determinados encaminhamentos da história, acaba soando forçado demais (primeiro, ela se mantém fria e distante - o que ocasiona a traição - e depois surge mais alegre - só para justificar a cena em que ela descobre a traição - e isso só é spoiler se você nunca viu um filme na vida). Outro exemplo de "forçação de barra" são as aparições de alguns personagens, que entram em cena, fazem uma ou outra piadinha e nunca mais são vistos. Repare que isso é exatamente a descrição do papel da amiga de Joni.
O segundo grande defeito do roteiro é que ele é meio "vazio". Bem, num drama, o que geralmente acontece é que o aparecimento de algo (neste caso, a chegada de Paul à família) desencadeia profundas mudanças em todos. Entretanto, tirando algumas reações normais que acontecem depois que jogam excrementos no ventilador, nenhum dos personagens muda em nada. A começar pelas "crianças" do título (original), cujos dramas (o arco do amigo mala de Laser e a timidez com o amigo/interesse romântico de Joni), são resolvidos sozinhos, por si só. Sem intervenção do pai ou das mães (por isso eu disse que o título original praticamente resume boa parte da história - as crianças estão bem, mesmo sozinhas).
Mesmo o arco do casal Nic e Jules acaba sendo pouco influenciado pela chegada de Paul. Repare, o casal já demonstrava estar em crise (como a cena "pornográfica" deixa bem claro, pela cara de Nic), e o romance de Paul e Jules acaba sendo apenas uma válvula de escape para ela. Ou seja, se não fosse com Paul, seria com outro ou, num capítulo de The L Word ou na minha imaginação, seria com outra lésbica jovem e linda (uma assim como Chloe, talvez?).
De positivo, Minhas Mães e Meu Pai tem as interpretações e caracterizações como ponto alto. Annette Benning, como Nic, está simplesmente excelente. Sua caracterização (que passa pelo figurino) está ótima, basta poucos segundos pra perceber quem é o "alfa" da relação, aquele que se impõe. Ou, numa linguagem mais bronca, quem é o "macho" da casa. Cabelos curtos, impostação de voz, camisetas de manga curta... E mesmo assim, ela não fica com aquele ar estereotipado de lésbica masculinizada. Pena que a personagem sofra um pouco com o roteiro, como já citado acima.
Julianne Moore está eficiente como sempre, e Mia Wasikowska consegue desenvolver sua personagem melhor do que em Alice. Um pouco fraca é a participação de Mark Ruffalo, mas boa parte disso advém do roteiro. Se Benning sofre com uma personagem inconstante, Ruffalo sofre com um personagem totalmente irreal. E que tem praticamente um não-desfecho, pra piorar.
Minhas Mães e Meu Pai é uma tentativa de brindar à família não-convencional, como mostra uma cena de jantar no filme. De fato, até deixa a impressão de ser um grande comercial/pregação à liberdade e à liberalidade. Nada contra, mas como história, tem de ser menos forçado. Enfim, um filme que pode ser interessante pra quem quiser ver uma parte do universo lésbico sem muitos estereótipos, mas como drama familiar, fraco. E, como comédia, dá pra se contentar com o trailer.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete e no Cinema em Cena.
Um comentário:
eu quero ver esse filme.
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