Eu já disse aqui uma vez que um dos segredos de se fazer rir, é o inesperado. É a surpresa, o plot twitst no final da piada. Além disso, o humor pode ser formado a partir de cenas físicas, o que chamamos de humor "pastelão", algo que, devido a anos de mal, uso quase se tornou um adjetivo negativo, mas como bem se vê nos filmes do mestre Charles Chaplin, pode ser feito com maestria, sem nenhuma conotação pejorativa. Acrescente ainda ao caldo da receita de fazer rir uma boa dose de inteligência (sobretudo em diálogos cheios de ironia) e pouca preocupação com a patrulha do politicamente correto, e pronto! Uma ótima receita pra comédia. E esta receita é seguida pelo filme Um Parto de Viagem (ou no original, Due Date).
Um Parto de Viagem é uma comédia road movie, ou seja, a história se passa basicamente numa viagem de carro, cruzando os Estados Unidos. Robert Downey Jr. interpreta Peter Highman, um arquiteto tentando voltar pra casa para presenciar o nascimento do seu primeiro filho. No avião, por uma série de confusões, causadas principalmente pelo nonsense Ethan Tremblay (interpretado por Zach Galifianakis, a revelação de Se Beber, Não Case), Peter é retirado e proibido de viajar de avião. Sem a carteira (que ficou na bagagem do avião, que partiu), ele é obrigado, mesmo a muito contragosto, aceitar a carona de Ethan, que também foi expulso do avião.
A partir daí, o resumo da história é conhecido: Peter odeia Ethan, mas é obrigado a viajar com ele. E sempre devido à total falta de noção de Ethan, os dois se envolvem em diversas situações engraçadíssimas (e muito desesperadoras para Peter). Mas claro, a partir de um certo ponto, nasce uma amizade entre os dois, como era de se esperar.
Se a linha geral de Um Parto de Viagem já é bem conhecida, com vários clichês (e tendo praticamente o mesmo resumo de um clássico dos anos 80, Antes Só do que Mal Acompanhado), e se um dos pilares da risada é a surpresa, não seria uma contradição dizer que o filme é hilário? Bem, a grande diferença está nos detalhes, nas situações em que os dois protagonistas se envolvem e nas suas motivações.
Um Parto de Viagem é politicamente incorreto, e as piadas com maconha (algumas presentes no trailer) são apenas a ponta do iceberg. Os diálogos rápidos e afiados também são pontilhados por assuntos politicamente incorretos, alguns contendo bastante ironia, o que nem todo o público percebe (ou acha graça, mas eu adoro). Infelizmente, não dá pra citar exemplos, porque estragaria a surpresa.
A química entre Downey Jr. e Galifianakis é excelente. As atuações estão ótimas, e principalmente Galifianakis, que apesar de seu nonsense, mostra em algumas cenas um bom desempenho dramático. Aliás, é interessante observar que apesar de ser uma comédia, o filme desenvolve muito bem seus dois personagens principais, com todo o arco da história dos pais de ambos. Mas claro, não deixa de ser engraçado, como bem mostram algumas cenas do trailer (que se você ainda não viu, aconselho que não assista o trailer e vá ver direto o filme).
Além da bela mão para comédia (e na medida certa, o drama no desenvolvimento dos personagens), o diretor Todd Phillips (o mesmo de Se Beber Não Case), também prova que sabe dirigir cenas de ação. Com um toque cômico, claro, mas as cenas de uma certa fuga dos personagens pela rodovia é excelente.
Enfim, se você não se importa (ou até mesmo gosta) de piadas politicamente incorretas, e curte um humor diversificado, mas sobretudo inteligente, deve gostar de Um Parto de Viagem. Eu, particularmente, adorei.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
2 comentários:
Ontem eu assisti pela primeira vez esse "Se beber não case". Daí eu lembrei de ter visto você falando ou sobre esse filme, ou sobre algum filme que foi feito pelos mesmos caras.
Daí eu acordo, tomo banho, curto um pouco a família [not] e resolvo voltar aos trampos, mas antes, uma passada rápida pra ver algumas atualizações de blogs e vejo ISSO.
Uma resenha de um filme feito pelo diretor do filme que eu assisti ontem.
Eu senti medo. Sou doente?
PS: Quiçá eu vá ao cinema amanhã. Duvido mto, mas né. Gostei da sua resenha.
gostei da cena da caminhonete...
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