2010-11-16

Filme: O Solteirão

Lendo rapidamente a sua sinopse, o filme O Solteirão (no original Solitary Man) até poderia se tratar de um daqueles filmes de sessão da tarde ou do sábado a noite, em que "um solteirão de meia-idade muito mulherengo apronta todas", como diria o locutor. Mas não, O Solteirão está longe de ser uma comédia escrachada, tendendo mais para o lado oposto, sendo um drama que poderia ser bem mais pesado, se os diretores David Levien e Brian Koppelman (também roteirista) tivessem optado por outra ótica ao contar a história da derrocada de Ben Kalmen.

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Ben Kalmen é interpretado por Michael Douglas, num papel que parece ter sido feito especialmente para o ator. Ben é um ex-dono de concessionárias de automóveis, e sendo "na raiz" um vendedor, tem um talento natural para conversar com as pessoas, aliado a um grande charme pessoal. Some a isso o fato dele ser mulherengo, e a quantidade de mulheres que Ben leva para a cama não é nada desprezível.

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Numa rápida introdução vemos Ben numa visita ao médico há uns seis anos atrás. Nesta época, Ben parece ser um bem sucedido homem de negócios. O médico lhe pede mais alguns exames, para averiguar algo que não lhe soou muito bem em seu eletrocardiograma. E corta para o presente, quando ficamos sabendo que Ben está divorciado e perdeu seu negócio anterior, tentando se reerguer usando a influência do pai da sua namorada (interpretada por Mary-Louise Parker). Mas tudo vai por água abaixo de vez quando Ben transa com a filha dela (Imogen Poots). Daí em diante, é só ladeira abaixo, até o fundo do poço. Conseguirá Ben se reerguer? Aprenderá alguma lição, ou como ele diz em um momento do filme, já está velho demais para isso?

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O Solteirão tem um elenco de apoio de renome. Além das já citadas Mary-Louise Parker e Imogen Poots (esta última ótima e safadinha, no que propõe o papel dela), temos Jenna Fischer (a Pam de The Office) interpretando a filha de Ben. E, apesar de parecer que Jenna está um pouco nervosa em algumas cenas com Douglas, sua atuação é eficiente. Também aparece na tela Jesse Eisenberg, mais uma vez interpretando um nerd (como em Zumbilândia, ou no vindouro filme do facebook), que por alguns instantes, se torna um "pupilo"/amigo de Ben.

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Destaque também para as pontas de Danny DeVito (mal aproveitado no filme) como um velho amigo de Ben, que o ajuda numa hora bastante ruim, e Susan Sarandon como sua ex-esposa. Se na maior parte do filme quem brilha é Michael Douglas (afinal, seu personagem é como um buraco negro egocêntrico, puxando todos para si), Susan Sarandon rouba a cena numa de suas (poucas) aparições, no final do filme, quando Ben dá algumas explicações (óbvias para a plateia, mas se alguém perdeu alguma coisa, também serve para os espectadores).

Se a diferença está nos detalhes, pode-se dizer que O Solteirão acerta em muitos pontos. Apesar de não ser a melhor atuação de Douglas, é inegável que ele está bem a vontade no papel. A direção conduz o personagem muito bem, como quando nos créditos iniciais, ele dá aquela "olhadinha" que todos nós, homens, damos de vez em quando ao passar por uma mulher. E isso ao som da música Solitary Man (interpretado, se não me engano, por Johnny Cash), excelente.

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A construção do personagem de Douglas durante a narrativa é outro ponto que eu considero muito boa. Vemos o presente do personagem, mas aos poucos vamos descobrindo sobre o seu passado, e indiretamente, o que o levou até onde está (porque diretamente, como ele mesmo assume, foi com seus próprios pés, ou seja, suas decisões). É interessante notar que, apesar de momentos sensatos, o personagem Ben é basicamente uma criança crescida, que tem um dom, mas não sabe os limites que pode atingir ou ultrapassar, e por isso, acaba sempre fazendo besteira. Nesse sentido, a aspirina infantil que o personagem toma tem dois significados, o mais direto se relaciona ao problema do coração. E, metaforicamente, se refere ao jeito infantil de lidar com a vida e seus problemas. Outra abordagem poderia se referir às atitudes do personagem como um vício, o que aproximaria o personagem do ator (que já foi tratado como viciado em sexo), mas não parece ser o caso do filme.

Com todo o foco dado em Ben, a maioria dos personagens coadjuvantes acaba sendo meio desperdiçada, apesar do esforço dos atores. Tanto a namorada de Ben, quanto a filha com quem ele dorme, são personagens unidimensionais. Até mesmo o amigo vivido por DeVito é pouco explorado. (Imagine que um amigo seu chegue no meio da madrugada pra ficar, e pra você, tudo bem, tudo tranquilo... Fora que ele era casado, até rola um papo sobre fidelidade, amor e casamento, mas como nunca, nem de relance é mostrado a mulher dele, o personagem acaba soando muito falso.)

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Enfim, O Solteirão está mais para "homem solitário" do que para aquele estereótipo de solteiro festeiro que o nome do filme traz. Entretanto, se você ver o trailer, verá que o filme realmente parece uma "comédia dramática". Bem, os alívios cômicos estão presentes sim, mas não dá pra não dizer que o filme é um drama. Trailers muitas vezes enganam, e as "altas confusões deste solteirão inveterado" podem até ter momentos de leveza, mas no fundo, fazem parte de um caminho cada vez mais para baixo.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Omelete. Link para a música Solitary Man no youtube.

P.S. Quem subiu o vídeo do trailer, esqueceu de cortar no lugar certo, e depois do trailer, ainda mostra uma parte de outro filme.

P.S.2 O trailer americano não tenta passar essa impressão descarada de comédia.

Um comentário:

Ju ♥ disse...

fiquei interessada...