Um filme que critica de maneira irônica e divertida (sem apelar para o escracho total), todos os clichês de um gênero do qual ele mesmo faz parte (e nesse processo, fazendo uma autocrítica), não pode ser de todo o mal. Pânico 4 (ou no original, Scream 4) é isso: uma ironia do começo ao fim.
A série Pânico nunca se levou muito a sério como filme de terror. Com certeza haviam as mortes, o(s) vilão(ões) assassino(s) ghostface e o suspense de ver quem seria o próximo personagem a bater as botas. Mas Pânico assumia também o lado cômico desse tipo de terror adolescente, seja usando de metalinguagem com um nerd explicando "as regras" para se sobreviver num filme de terror, seja usando humor físico ao fazer as personagens darem verdadeiros balés ao fugirem das estocadas do assassino atrapalhado (mas que no final, acertava o alvo). Pânico 4 abandona um pouco o humor físico (o assassino agora, paradoxalmente com o final, está mais atlético), mas continua abusando, e muito, da metalinguagem, seja ao enfatizar tanto "as novas regras", seja ao brincar com o filme dentro do filme, numa abertura que traz um aspecto meio Inception (recursivo) e que é, de longe, a melhor sequência do filme.
Pânico 4 se passa muitos anos depois dos eventos do terceiro filme. Os personagens principais já estão bem mais velhos, Dewey (David Arquette) agora é xerife, por exemplo, e sua esposa Gale (Courteney Cox) envelheceu mal, tanto pelo lado profissional (não conseguindo mais escrever) quanto pelo lado físico (o botox de Courteney Cox a deixou horrível). Sidney (Neve Campbell) querendo se livrar da estigma de eterna vítima e perseguida (!) por assassinos, escreveu um livro sobre o tema, e volta à boa e velha cidadezinha de Woodsboro numa turnê para divulgar o seu livro de auto-ajuda, bem no aniversário dos primeiros eventos ocorridos. O que ela não esperava é que um novo assassino de adolescentes está a solta, e ele parece mirar no círculo de conhecidos da prima de Sidney, Jill (Emma Roberts, a linda sobrinha da mulher Julia Roberts), que tem como melhores amigas Kirby (Hayden Panettiere, a eterna cheerleader) e Olivia (Marielle Jaffe).
O elenco de Pânico 4 é enorme, e formado por muitos rostos conhecidos da televisão, por isso, não vou citar todos. Se bem que eles são irrelevantes pra trama, sendo mais um "bônus" pro espectador (nerd), porque no filme servem mesmo de número e de vítimas para o assassino da vez. E se você pensou que com os protagonistas seria diferente, se enganou. O trio (formado pelos sobreviventes dos filmes anteriores) pouco se desenvolve. (Talvez pelo roteirista Kevin Williamson achar que o que eles tinham que se desenvolver, já foi feito nos outros filmes?) O fato é que apenas o casal Gale e Dewey tem algo a mais, que é a crise no casamento deles, mas é algo tão mal explorado que a gente facilmente se esquece disso. O interessante é que o foco maior da projeção fica com os novos personagens adolescentes, mas que apesar de ganharem bastante tempo em tela, são unidimensionais como personagens (tem o clichê do nerd, da gostosinha, do jogador de futebol americano...)
Mesmo que este seja o quarto filme da franquia, como os próprios personagens se dão conta (depois da providencial explicação dos nerds de filmes de terror), Pânico 4 é como se fosse uma refilmagem do primeiro. O que não é nenhuma surpresa nesta época em que Hollywood só recicla ideias, coisa que até mesmo o personagem no filme critica. (Uma auto-meta-crítica?) Nesse contexto, esqueça todo o marketingo do filme: a década mudou, mas as regras continuam as mesmas.
O lado bom disso é que Pânico 4 traz algo de nostálgico e familiar pra quem assistiu os primeiros com pipoca e refrigerante, e rindo muito com os amigos do lado. Além da familiaridade de ver os personagens principais reunidos novamente (mesmo que seja meio assustador o visual de Courteney Botox, quero dizer, Cox), as mortes absurdas também têm um certo gosto de nostalgia e graça (do absurdo). Ou vai me dizer que o assassino cravar uma faca na testa de alguém não é, de certa maneira, engraçado? (Só pra constar, na vida real pra pessoa fazer isso, e depois ainda tirar a faca cravada até o fundo, o cara tem que ter uma força de Jason.) E pior ainda, a vítima ainda dá uns passos depois disso. (Não é à toa que quem interpreta essa vítima é um comediante.)
Enfim, Wes Craven, o diretor de todos os Pânico, fez em Pânico 4 uma refilmagem do original, atualizando um ou outro elemento temporal, como a presença massiva de celulares e facebook, hoje em dia, por exemplo, ou com o fato de que agora ser famoso não é ter um livro escrito sobre você, mas aparecer em vídeo na internet (Rebecca e seu Friday, que o diga). É um filme razoável, legal se você curtiu os três primeiros e se gosta de um terrir com metalinguagem. Mas, como uma personagem mesmo fala no filme, "uma refilmagem nunca supera o original", o que é autocrítico e irônico, mas ao mesmo tempo, de certa forma covarde, como se os autores estivessem se desculpando a priori. Irônico é que não precisava.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
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