Já na primeira cena de Uma Manhã Gloriosa (ou Morning Glory, no original), temos um bom vislumbre do filme que está por vir. Nesta cena, Becky Fuller (a sempre linda Rachel McAdams) chega a um primeiro encontro com um cara qualquer. Encontro este que dura poucos minutos, depois dela não conseguir largar o telefone celular (a trabalho) e disparar a falar. Essa cena é emblemática para o filme porque ela já nos mostra algumas coisas. Primeiro, que o relacionamento mais forte de Becky é com o seu trabalho. E segundo, apesar do estilo ser muito parecido com o de uma comédia romântica, neste filme o romance fica em segundo plano.
Uma Manhã Gloriosa nos apresenta Becky, uma esforçada mas um tanto atrapalhada produtora de programas matinais de TV. Tendo sido despedida e implorando por um emprego, ela aceita o trabalho de produtora do Daybreak, um programa matinal misto de telejornal e programa de variedades. O desafio é levantar a audiência do programa, que vai muito mal das pernas, e para isso ela conta com o renome de Mike Pomeroy (Harrison Ford), um famoso jornalista. Só que Mike reluta em se tornar âncora do programa, dividindo a bancada com Colleen Peck (Diane Keaton), já que ele é um repórter sério e considera o programa muito aquém de sua carreira. Enquanto Becky luta para tocar o show e convencer o seu chefe Jerry Barnes (Jeff Goldblum) de que é capaz da empreitada, ela ainda começa um relacionamento com Adam Bennett (Patrick Wilson). Uma Manhã Gloriosa é quase uma comédia romântica, com a diferença que neste filme, a mocinha corre atrás do trabalho e não de um relacionamento (a não ser o relacionamento dela com o trabalho).
O filme funciona muito bem como uma comédia leve e despretensiosa. É sem dúvida caricato (basta reparar nas reações de Becky, por exemplo, ou no jeito ranzinza de Mike), e talvez até por isso, seja engraçado. Na vida real, trabalhar com alguém toda desajeitada ou ranzinza não traz nenhuma diversão, mas no filme, rende bons momentos cômicos. Sem dúvida, destaque para Ford, incorporando o personagem (ou talvez sendo ranzinza de verdade). Não importa, o personagem solta comentários ácidos e muito engraçados. Outros momentos hilários pertencem ao homem do tempo do Daybreak, que depois de certo ponto do filme, é enviado para lugares pouco convencionais em se tratando de previsão do tempo.
Ainda sobre atuações, infelizmente a personagem de Keaton é subutilizada. Ela tem bons momentos, especialmente com Ford, mas a sua personagem é quase uma decoração de luxo. O grande destaque vai mesmo para Rachel McAdams (fazendo o que sabe fazer melhor: ser um doce) e Harrison Ford. Aliás, o relacionamento entre os personagens deles, Mike e Becky, é o que há de mais próximo de um relacionamento de comédia romântica, sendo responsável pela clássica cena de corrida no final (aquela em que um personagem inevitavelmente percebe estar fazendo uma burrada, ou deixando de fazer algo, e sai correndo em direção ao outro, quase sempre com direito a uma câmera lenta aqui ou ali). Nesse sentido, é interessante notar uma das cenas iniciais do filme, em que Becky, Mike e Adam estão num elevador, como se essa cena antecipasse o que está por vir: Becky com Adam, mas com um forte relacionamento com Mike (apesar deste último levar mais para um lado relacionamento pai/filha).
O diretor Roger Michell acerta no lado cômico de Uma Manhã Gloriosa, mas derrapa ao tentar enveredar por temas mais profundos, como o relacionamento de Becky com a mãe, ou de Mike com sua família (apenas citada no filme). Por sorte, esses temas são rapidamente deixados de lado, em prol do entretenimento. Que é a única questão que parece ser tratada com um pouco mais de entusiasmo no filme: a relação ou briga entre informação e diversão, entre notícias e entretenimento. O primeiro, na figura de Mike, que defende o "jornalismo sério", e o segundo, nos rumos que o programa toma, comandado por Becky, a fim de elevar a audiência. Entretanto, no fundo, essa disputa nem é uma disputa de verdade (no filme), uma vez que até mesmo a personagem Becky diz claramente a Mike algo do tipo: "notícia pra você: o entretenimento já ganhou". Não vou discutir essa questão aqui, na vida real, mas devido ao nível dos programas da TV (na época em que eu ainda assistia televisão), tendo a concordar com Becky. Sei que William "Homer Simpson" Bonner também concordaria.
Apesar do final fraco, em que temos as tradicionais lições de morais, como a carreira não é tudo na vida (e celulares na geladeira são bons pra não atrapalhar o romance), e o trabalho vem depois da família (mesmo que a sua família seja a do trabalho, como é o caso), Uma Manhã Gloriosa rende boas risadas, desde que você esteja disposto a rir com uma caricatura do mundo.
P.S. Como estou sob forte influência da beleza e meiguice da Rachel McAdams (que é uma das minhas paixões desde que foi A Mulher do Viajante do Tempo), esse texto provavelmente é tendencioso. ;)
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
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