Quando vi o material de divulgação (trailer, poster) de Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo, no original), achei que seria mais um filme feel good medíocre de fim de ano. Mesmo assim, fui assisti-lo (afinal, tinha a Scarlett Johansson no elenco). Saí da sessão com uma grata surpresa: sim, é um filme feel good, mas um dos bons. Dos ótimos, aliás.
Compramos um Zoológico traz a história baseada em fatos reais de Benjamin Mee (Matt Damon), um repórter aventureiro que perdeu a esposa e agora tem dois filhos para criar, o pré-adolescente Dylan (Colin Ford) e a pequena e meiga Rosie (Maggie Elizabeth Jones). Ainda em um processo de luto, Benjamin não consegue superar a morte da mulher, não conseguindo nem mesmo frequentar os mesmos restaurantes em que iam. Procurando por uma nova casa para conseguir ter um novo começo, Benjamin encontra uma que parece ideal: grande, afastada da agitação da cidade, com um imenso quintal (com o terreno sendo medido em hectares!) e um preço bem baixo. Mas com um grande porém: o terreno na verdade é um zoológico, e a compra da casa implica na compra do pacote inteiro, leões, zebras e tigres inclusos.
Após ver a filha Rosie feliz brincando com alguns animais, Benjamin não resiste e decide comprar a casa e tudo o mais. Entretanto, manter o zoológico não será fácil, mas ele contará com a ajuda de fieis empregados que já trabalhavam lá, destacando a jovem tratadora de animais Kelly Foster (Scarlett Johansson).
Se formos julgar apenas pelo poster e trailer, Compramos um Zoológico pode dar a impressão de ser mais uma comédia bobinha que se apoia no elenco animal (os bichos do zoológico, e não o elenco humano, que de tão bom, poderia ser também descrito como "animal", no bom sentido), para ter graça. O filme é, acima de tudo, sobre pessoas, o que é bem evidente e bem enfatizado, como por exemplo, logo no começo, pelo irmão de Benjamnin (interpretado por Thomas Haden Church) que reforça ao irmão enlutado como é importante ele ver pessoas. (Possível SPOILER até o final deste parágrafo!) E essa ênfase nos seres humanos é reforçada no final, quando a jovem Lily (Elle Fanning) pergunta a Kelly, sua tia, que se ela tivesse que escolher entre humanos e animais, qual ela escolheria. E Lilly, diante do silêncio de Kelly, que somente olha com carinho para a família Mee, completa dizendo algo como "Eu também. Pessoas." E então sorri. (Fim do Spoiler.)
Com um ótimo roteiro, baseado no livro de Benjamin Mee e escrito por Aline Brosh McKenna e pelo próprio diretor Cameron Crowe, Compramos um Zoológico equilibra bem momentos cômicos com o drama pessoal de Benjamin e Dylan, tendendo mais para o cômico, não deixando assim o clima muito pesado em nenhum momento (note até como o "vilão" do filme, o inspetor que dará a licença de funcionamento para o zoológico, é caricato ao extremo).
Outro ponto a se ressaltar no texto do filme são as boas frases, que usadas em momentos cirurgicamente calculados no filme, passam aquela sensação inspiradora, como quando Benjamin diz para os empregados do parque, que estão com moral baixa, que ele "sempre foi um observador e escritor, mas que aquela era a sua primeira aventura", ou então quando ele ensina ao filho a técnica para vencer o medo de falar com mulheres: "só é preciso 20 segundos de coragem insana, e algo bom vai sair disso". (Possível SPOILER até o final deste parágrafo!) Outro exemplo de como o texto me agradou são as suas "rimas", que mostram como uma mesma frase se encaixa no começo e no fim do filme de maneira que "ligam" as cenas, como a própria frase dos 20 segundos de coragem insana, que também é mostrada na última cena do filme, quando Benjamin conta para os filhos como conhecera a mãe deles, ou como quando ele logo no começo do filme responde a Kelly, que o indaga por qual motivo comprara um zoológico tão cheio de problemas, e ele responde 'Por que não?', e essa é a mesma frase que a mulher dele respondera a cantada que ele usara puxar assunto com ela. (Fim do Spoiler.)
Com ótimas atuações, o grande destaque de Compramos um Zoológico vai mesmo para a pequena Maggie Elizabeth Jones, que interpreta a filha Rosie. Ela é a dona das melhores piadas ("O que tem o coelhinho da Páscoa?") e a sua presença meiga rouba a cena quando ela aparece. Matt Damon também está ótimo e Scarlett Johansson continua linda como sempre, mas entrega uma ótima atuação sem apelar para a sua presença femme fatale. Destaque também para o elenco de animais, que não fazem feio, aparecendo em cena bem treinados, mesmo não tendo tanto destaque como em um Dr. Dolittle, por exemplo.
Com uma boa fotografia que ressalta a luz natural em diversos e importantes momentos (reparem na hora em que Benjamin decide comprar o zoológico e o efeito da luz do sol nele), Compramos um Zoológico é uma comédia familiar, mas que não agride o cérebro. Ainda é um filme e, portanto, ficção (mesmo que tenha sido baseado em fatos reais, pois a palavra importante é BASEADO), mas tem boas sacadas e consegue nos fazer simpatizar com seus personagens. E, como estes acabam todos bem e felizes, ficamos felizes junto. Essa é, afinal, a razão de ser de um filme feel good. Sair da sessão se sentindo bem. E mesmo que a realidade não seja tão boa conosco como a ficção (e geralmente não é), se o filme conseguir te inspirar algo, já é válido. E este Compramos um Zoológico tem tudo para conseguir.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Omelete.
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