O filme A Condenação (Conviction, no original) tem uma sutileza interessante no nome original, infelizmente intraduzível para o português. Em inglês conviction pode significar tanto condenação (e daí o correto nome brasileiro do filme), tanto quanto convicção. E essas são duas palavras-chave do filme: uma condenação injusta e a convicção inabalável da irmã do condenado na sua inocência, que luta para libertar o irmão.
Baseado em fatos reais, A Condenação nos conta a história de Betty Anne Waters (Hilary Swank) e seu irmão Kenny Waters (Sam Rockwell). No ano de 1980, em Massachussets, um brutal assassinato ocorreu na cidade em que os irmãos moravam. Tendo antecedentes e sendo um conhecido causador de encrencas, Kenny é levado a delegacia, não sem antes provocar um pouco a policial Nancy Taylor (Melissa Leo). Ele passa a noite na delegacia, mas é liberado. Dois anos depois, ele é preso e julgado culpado, com base em testemunhos de ex-namoradas, que afirmaram que ele confessara o crime. Betty Anne, que trabalha num bar, vendo seu irmão condenado e sem amplos recursos financeiros para tentar contratar um advogado de primeira, resolve ela mesma fazer justiça. E por fazer justiça, entenda-se terminar o segundo grau (que ela havia abandonado), entrar numa faculdade de Direito, passar no exame para conseguir a licença de advogada e finalmente, conseguir um meio de provar a inocência do irmão.
Sem dúvida a história real por trás de A Condenação é uma daquelas inspiradoras, cuja persistência da personagem e sua determinação ferrenha numa causa justa emocionam a audiência. Entretanto, o mesmo não se pode dizer do filme. Por meio de flashbacks (e com alguns dentro de outros flashbacks), inseridos em vários momentos durante a trama, vemos como o forte laço que une os irmãos se formou, especialmente por viverem numa família disfuncional, onde acabavam contando apenas um com o outro. Esse desenvolvimento é a melhor parte do filme, mesmo que não ocupe grande parte da projeção. Nesse sentido, vale destacar as crianças que interpretam os irmãos na infância, Tobias Campbell e principalmente Bailee Madison (a garotinha de Não Tenha Medo do Escuro e de Esposa de Mentirinha).
No tempo presente, a história se desenrola de maneira bem mais previsível e bem mais monótona. Betty Anne luta para conseguir se formar, mesmo trabalhando e "perdendo os filhos" (que passam a morar na casa do pai nos dias da semana). Entretanto, para mostrar as dificuldades de Betty na faculdade, o filme não se sai bem, ora usando de clichês como o plano em que ela corre para entregar um trabalho, mas o responsável por recolhê-los não o aceita por ela estar atrasada, ou usando diálogos explicativos, como quando ela conversa com o irmão e explica por que ela está "em condicional" na faculdade, por não conseguir manter um bom desempenho. Outro fato que deixa o filme um pouco monótono é a estrutura dele: para cada avanço, parece haver um contratempo. Entretanto, cada contratempo é pouco explorado, dando uma impressão de que o problema não era tão grande assim. Tome-se como exemplo quando ela descobre a existência dos exames de DNA (lembrem-se que isso se passa nos anos 90), que pode livrar o irmão da cadeia, mas aí resta reencontrar as evidências, que depois de tanto tempo, podem ter sido destruídas. A resolução desse problema, depois de alguns telefonemas ineficazes, se resolve depois de uma única visita ao vivo ao tribunal (e se o filme nos ensina algo, é que telefonemas não funcionam, vá pessoalmente).
A Condenação é um filme de atuações, ou seja, um filme em que as atuações dos atores têm um grande peso para a qualidade da película. Nesse sentido, A Condenação tem uma protagonista que rouba a cena (até demais). Hillary Swank é a estrela absoluta do filme, e entrega uma boa atuação (apesar de achar que esta está bem aquém de suas melhores performances), eclipsando todos os outros personagens, o faz com que o filme perca um pouco. Até mesmo o bom Sam Rockwell aparece meio apagado no filme, sendo que se destaca em poucos momentos, como quando é abordado pela policial enquanto corta uma árvore ou quando se mete em uma confusão no bar, segurando a filha ainda bebê. Analisando-se isso, fica claro que o filme é sobre Betty Anne, uma vez que o personagem de Kenny é muito mal desenvolvido depois do julgamento. E se mesmo Rockwell aparece apagado na tela, os personagens coadjuvantes então... Minie Driver aparece como amiga e suporte da personagem de Swank, mas apenas fornece rápidos alívios cômicos, sem grande destaque. Melissa Leo aparece quase que em uma ponta (apesar de ser bastante importante para na história), e Juliette Lewis aparece um tanto quanto exagerada.
O sentimento ao final da projeção é que A Condenação é um resumo de uma história bacana e emocionante, mas que deixou muitos dos detalhes (que são o que dão o verdadeiro tempero) de fora. Nesse sentido, é compreensível o fato do diretor Tony Goldwyn (talvez mais conhecido pelo seu trabalho de ator como vilão de Ghost), ter deixado de fora do filme, mesmo nos textos finais de créditos, o destino irônico e trágico de Kenny (que se você quer saber mesmo, foi o seguinte: ele morreu poucos meses depois de sair da prisão, num acidente doméstico). Particularmente, como algumas outras escolhas do diretor, eu não gostei dessa. Enfim, no geral, A Condenação é um filme fraco, com um jeito de filme feito pra TV (o que não é de se estranhar, vendo o currículo de Goldwyn, mais acostumado a esta mídia quando se trata de dirigir). Ironicamente, talvez tenha faltado um pouco de convicção ao diretor e ter trabalhado mais os outros personagens, ao invés de deixar apenas Swank se sobressair em cena.
Trailer:
Para saber mais: texto no blog do Rubens Ewald Filho.
4 comentários:
Gostei, e vou ver.
Eu achei um excelente filme. Contou o que devia contar. É um filme e não um documentário!
Eu achei um excelente filme. Contou o que devia contar. É um filme e não um documentário!
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