"Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" é um dos títulos mais românticos que eu já vi. Não um romantismo à lá Hollywood, cheio de melosidade e frufrus. Mas de um romantismo mais pragmático, mais real. Dito isso, o filme que leva este título, baseado no romance de mesmo nome, de Marçal Aquino (que eu não li, mas que depois de ver o filme, pretendo ler), é um retrato de um romantismo não só mais pragmático, mas também mais realista e até, por que não, cínico. É, sem dúvida, um excelente filme, que peca em alguns momentos, mas que não perde seu brilho por causa desses erros.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios traz o triângulo amoroso entre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), Lavínia (Camila Pitanga) e seu esposo e pastor Ernani (Zé Carlos Machado), numa pequena cidade no Pará, envolvida em conflitos de terra. Contado de maneira não linear, o filme foca-se mais na história de Lavínia, cujo passado se desdobra para o espectador através de flashbacks. Este passado, na qual conheceu seu marido, tem vital importância para entender as ações e reações de Lavínia no presente, no que diz respeito ao seu envolvimento amoroso com Cauby. O filme, entretanto, muito acertadamente não mastiga tudo para o espectador. Assim, quando no começo vemos os primeiros encontros de Cauby e Lavínia, não entendemos algumas finas reações dela, como o persistente olhar de tristeza e culpa. Mas que acabam sendo perfeitamente compreensíveis depois de revelado seu passado com Ernani.
Mesmo que Gustavo Machado e Zé Carlos Machado exibam ótimas atuações, eles são ofuscados pelo trabalho de Camila Pitanga. Entregue de corpo e alma à sua personagem (e, permitam-me abrir um parêntese, que corpo!), Pitanga vai naturalmente de um extremo a outro, do fundo do poço (no seu passado), passando por uma felicidade sempre meio ameaçada (no presente), até, enfim, chegar ao final, em que demonstra uma atuação ao mesmo tempo poderosa e delicada. E isso tudo sem mencionar as cenas de nudez e sexo, que, junto com a beleza da atriz, são extremamente lindas. (Apesar da melhor cena dela, na minha opinião, nem envolver nudez, que é quando ela tem "expulsos os seus demônios".)
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios tem dois problemas. O primeiro é a inclusão de questões sociais no filme, que apesar de serem parte importante na trama, têm cenas que não sem encaixam bem, quase como estivessem ali para doutrinar o espectador. Por exemplo, a cena em que Cauby e Lavínia estão voltando de um passeio em uma canoa e se deparam com um grande navio carregador de madeira vazio, e então o navio é tomado por habitantes locais, acaba soando não só inverossímil, mas também inorgânica na narrativa. Muito melhor são as tomadas aéreas, que mostram o cenário da Amazônia com locais de extração de madeira como buracos no meio da natureza, uma maneira bem mais sutil e elegante de mostrar essas questões, do que colocar no meio da narrativa, um discurso sobre uma lei que afeta os habitantes locais.
O outro problema de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é a quantidade de fade ins e fade outs (o escurecimento da tela, entre as cenas) usado no filme. Além de não ser exatamente a maneira mais sutil de mostrar elipses de tempo, esse recurso acaba exacerbando o caráter episódico da narrativa, como se estivéssemos vendo não um filme único e coeso, mas episódios interligados de uma série.
Se esses problemas diminuem um pouco o filme Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, eles não são suficientes para sobrepor às qualidades da película dirigida por Beto Brant e Renato Ciasca, que também co-escrevem o roteiro junto com o autor do livro que originou o filme, Marçal Aquino. Eles, e todos do elenco, podem ficar tranquilos quanto ao filme: não são notícias ruins.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
8 comentários:
ando com medo de filmes baseados em livros, ultimamente tenho me decpecionado com isso... prefiro ler o livro.
Eu ando fazendo os dois, vendo e lendo. Mas eu deixo um tempo entre um e outro, pra um não influenciar a apreciação do outro.
olha, eu dei tempo demais pra ver o filme Comer, Rezar, Amar... li o livro assim q foi lançado e vi o filme somente semana passada e quer saber? odiei.
não tem nada a ver com o livro, enxertaram coisas no filme q nem de longe estavam no livro, fora as coisas importantes do livro q não estavam no filme.
Ah, mas nesse caso específico, o filme é medíocre, independente do livro ou não.
Um filme que eu acho que ficou até melhor do que o livro é o A Mulher do Viajante do Tempo / Te Amarei Para Sempre, que apesar de serem bem próximos, o final do filme eu acho mais coerente do que o final do livro.
Esses eu não li e não assisti ao filme.
Vc que gosta de romance, deve gostar.
Outros exemplos de boas adaptações, que eu li faz pouco tempo: Ilha do Medo, A Estrada.
Valeu pelas dicas...
Crítica ao continuista: se as piriguetes paraenses são todas depiladas, raspadinhas, “preparas”, sempre preparadas para uma relaçãozinha, imagina as prostitutas. Aliás, uma piriguete, mini-piranha e prostituta do sistema são a mesma coisa, não é de um só, é de todos e não é de ninguém ao mesmo tempo, nem dela mesma. Garfe do filme: esqueceram de depilar a Camila.
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