2010-06-07

Filme: Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos

Sábado passado fui na sessão cult do Cinemark Floripa, e assisti o filme brasileiro Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos. Só vendo o título, o filme já começou me agradando, mostrando que um dos recursos que eu geralmente adoro, a metalinguagem, estaria presente, afinal, o filme tem apenas 90 minutos. E claro, tem histórias de amor, que na verdade, não são o principal foco, mas apenas ajudantes. Não, não é uma comédia romântica.

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A minha primeira lembrança de um filme com metalinguagem é Curtindo a Vida Adoidado. Um clássico das sessões da tarde, quem não se lembra de Ferris (o protagonista vivido por Matthew Broderick) conversando constantemente com o espectador? Desde esse filme, tenho achado esse recurso fantástico, estando entre os meus preferidos.

Mas voltemos a Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos. O filme é uma comédia, sim, mas de costumes, de situações. É uma comédia que não se rende ao pastelão, que arranca risadas mais pelo seu excelente texto, mas sem deixar de usar o recurso audiovisual. Quer um exemplo? Talvez nem todos captem a referência, mas repare na cena (mais no final do filme) em que o protagonista Zeca (Caio Blat) reflete sobre tudo o que acabara de acontecer. Conhecem O Pensador de Rodin? Pois é, reparem na referência e no subtexto visual em que ela aparece. Eu, pelo menos, achei muito engraçada (apesar não ser de todo original).

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A história se concentra em Zeca, um jovem adulto beirando os 30, que vive da pensão da falecida mãe (mas que é administrada pelo pai). Sem um emprego, ele se denomina um escritor, mas nunca chegou a terminar nenhum livro. Seu primeiro romance continua empacado lá pela página 50. A história desse romance é até bem bacana, e no filme ela é contada através de animação, no estilo "quadrinho animado", com um estilo visual que lembra ligeiramente clássicos noir como Sin City. Bem bacana pra quem curte quadrinhos também, assim como Zeca, que como sinal de imaturidade (no filme), admite que desejava ser mesmo um escritor de quadrinhos.

Aqui cabe uma pequena crítica ao texto do filme. Fica subentendido que o sonho de trabalhar com quadrinhos é uma coisa imatura, de adolescente, e que não tem lugar no mundo "adulto". Neil Gaiman, cordialmente, discorda. Mas entendo que simbolicamente, quadrinhos ainda são vistos como ligados à juventude, e essa foi a ligação usada no filme. Entendo, mas discordo. Mas não é isso que estragaria o filme, até porque é um texto e subtexto tão pequeno, que a maioria das pessoas não notará.

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Zeca é casado com Júlia (Maria Ribeiro, mulher de Blat na vida real). Júlia, ao contrário de Zeca, é objetiva: trabalha e batalha no seu doutorado. As diferenças entre os dois são evidentes, mas o casal vai levando, até que Zeca começa a desconfiar que Júlia o trai. Com outra. A amiga, ex-aluna e dançarina Carol (a argentina Luz Cipriota). Zeca se torna cada vez mais obcecado por Carol, até que ele se dá conta que está apaixonado por ela. E daí temos um triângulo amoroso, sendo que uma das arestas deste triângulo (Júlia e Carol) pode ser real ou apenas imaginação de Zeca, o que também ilustra a confusão deste personagem.

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A atuação de todo o elenco está ótima, com destaque para o Zeca de Caio Blat e para o pai de Zeca, vivido por Daniel Dantas. Se o filme tem um texto incrível, o personagem vivido por Dantas possui algumas das melhores frases. Uma delas, sobre o Rio de Janeiro, cenário onde se desenvolve o filme, é mais ou menos a seguinte: "O Rio é democrático. Zona sul, norte, centro, a cidade toda tem o mesmo cheiro de merda". E outra frase que me lembro é "problema com mulher é praticamente um pleonasmo".

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Ah, quisera eu ter esses problemas, com mulheres como Maria Ribeiro e Luz Cipriota, que estão absolutamente lindas no filme. E infelizmente, não absolutamente peladas. Aliás, um ponto que foi alardeado sobre o filme seriam as cenas eróticas, especialmente as do casal Blat e Ribeiro. Sim, elas estão lá. Sim, elas são plasticamente bem feitas e excitantes (o fato de eu achar a Maria Ribeiro lindíssima também ajuda). Mas não chegam a ser extraordinárias ou originais. Em matéria de erotismo, essas cenas (e também as de Blat com Cipriota), são relevantes para a história, mas nunca gratuitas e, sobretudo, nunca mais importantes do que a própria história. Aliás, o sexo é mais usado como ferramenta de comicidade do que de erotismo, e isso é bem claro em duas cenas: na primeira, a festa em que o trio vai depois de uma apresentação de dança de Carol, e a segunda cena, no primeiro encontro mais íntimo e profundo de Carol e Zeca. Ambas as cenas são muito, muito boas. Hilárias.

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Dirigido e escrito por Paulo Halm (que estreia na direção, mas é veterano no roteiro), Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos tem um quê de comédia estilo Woody Allen: texto afiadíssimo, misturando situações inusitadas e referências e questões mais filosóficas. Pegue, por exemplo, a cena em que Zeca ainda filosofa o porquê de não conseguir escrever: ele imagina as histórias de diversas pessoas passando pela rua, mas conclui que no fundo, só consegue escrever sobre uma coisa: si mesmo. Uma postura que filosoficamente eu concordo: só conseguimos escrever bem sobre uma coisa quando a conhecemos; e que coisa conhecemos melhor do que nós mesmos, ou pelo menos, a imagem que temos de nós?

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E Zeca filosofando é grande parte da graça do filme, com seu texto muito bem feito. Neste quesito, Paulo Halm realmente se supera. Um das coisas geniais é justamente o personagem de Zeca, que, num exercício de metalinguagem, constantemente narra a história como se conversasse conosco, os espectadores, sendo personagem, narrador (e consequentemente autor) da sua própria história. E esse "múltiplo papel" é mencionado pelo menos duas vezes pelo próprio personagem, uma delas quando se sente "figurante da própria história", depois de ter sua masculinidade posta a prova.

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos? Talvez sim, talvez não. Mas com certeza, posso dizer que pelo menos uma história que dura 90 minutos, a deste filme, é excelente.

Trailer:



Para saber mais: Página oficial do filme.

E de brinde pra marmanjada:



P.S. Até do Caetano Veloso cantando Nature Boy (em duas ocasiões) eu gostei no filme.

9 comentários:

Ju ♥ disse...

li em algum lugar q o casal casado disse q foi esquisito e mais difícil fazer o filme sendo casal de verdade... estou com vontade de ver esse filme.

Andarilho disse...

Deve ter sido, principalmente quando ele dá uns pegas na outra.

Ju ♥ disse...

se eu não estiver enganada [já q não vi o filme] não foi nem isso, foram as cenas deles.

Andarilho disse...

Tem uma entrevista legal deles aqui:

http://www.saraivaconteudo.com.br/Video.aspx?id=147

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Hummm parece que é bom! bem, vou assistir! bjs

Ju ♥ disse...

vou ler.

Sardinha Mestre disse...

DANIEL DANTAS??????

pera ai que vou baixar esse filme agora..

Anônimo disse...

Mas afinal onde tem link pra baixar...?

Rafhael Peixoto disse...

|Muito legal seu texto, contudo, não acredito que em momento algum tenha existido essa comédia relatada, pelo menos eu penso assim. Uma questão que ficou em minha cabeça foi: será que existiu a traição da esposa dele ou terá sido seu lado escritor que instituiu a traição?