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Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios traz o triângulo amoroso entre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), Lavínia (Camila Pitanga) e seu esposo e pastor Ernani (Zé Carlos Machado), numa pequena cidade no Pará, envolvida em conflitos de terra. Contado de maneira não linear, o filme foca-se mais na história de Lavínia, cujo passado se desdobra para o espectador através de flashbacks. Este passado, na qual conheceu seu marido, tem vital importância para entender as ações e reações de Lavínia no presente, no que diz respeito ao seu envolvimento amoroso com Cauby. O filme, entretanto, muito acertadamente não mastiga tudo para o espectador. Assim, quando no começo vemos os primeiros encontros de Cauby e Lavínia, não entendemos algumas finas reações dela, como o persistente olhar de tristeza e culpa. Mas que acabam sendo perfeitamente compreensíveis depois de revelado seu passado com Ernani.
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Mesmo que Gustavo Machado e Zé Carlos Machado exibam ótimas atuações, eles são ofuscados pelo trabalho de Camila Pitanga. Entregue de corpo e alma à sua personagem (e, permitam-me abrir um parêntese, que corpo!), Pitanga vai naturalmente de um extremo a outro, do fundo do poço (no seu passado), passando por uma felicidade sempre meio ameaçada (no presente), até, enfim, chegar ao final, em que demonstra uma atuação ao mesmo tempo poderosa e delicada. E isso tudo sem mencionar as cenas de nudez e sexo, que, junto com a beleza da atriz, são extremamente lindas. (Apesar da melhor cena dela, na minha opinião, nem envolver nudez, que é quando ela tem "expulsos os seus demônios".)
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios tem dois problemas. O primeiro é a inclusão de questões sociais no filme, que apesar de serem parte importante na trama, têm cenas que não sem encaixam bem, quase como estivessem ali para doutrinar o espectador. Por exemplo, a cena em que Cauby e Lavínia estão voltando de um passeio em uma canoa e se deparam com um grande navio carregador de madeira vazio, e então o navio é tomado por habitantes locais, acaba soando não só inverossímil, mas também inorgânica na narrativa. Muito melhor são as tomadas aéreas, que mostram o cenário da Amazônia com locais de extração de madeira como buracos no meio da natureza, uma maneira bem mais sutil e elegante de mostrar essas questões, do que colocar no meio da narrativa, um discurso sobre uma lei que afeta os habitantes locais.
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O outro problema de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é a quantidade de fade ins e fade outs (o escurecimento da tela, entre as cenas) usado no filme. Além de não ser exatamente a maneira mais sutil de mostrar elipses de tempo, esse recurso acaba exacerbando o caráter episódico da narrativa, como se estivéssemos vendo não um filme único e coeso, mas episódios interligados de uma série.
Se esses problemas diminuem um pouco o filme Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, eles não são suficientes para sobrepor às qualidades da película dirigida por Beto Brant e Renato Ciasca, que também co-escrevem o roteiro junto com o autor do livro que originou o filme, Marçal Aquino. Eles, e todos do elenco, podem ficar tranquilos quanto ao filme: não são notícias ruins.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
8 comentários:
ando com medo de filmes baseados em livros, ultimamente tenho me decpecionado com isso... prefiro ler o livro.
Eu ando fazendo os dois, vendo e lendo. Mas eu deixo um tempo entre um e outro, pra um não influenciar a apreciação do outro.
olha, eu dei tempo demais pra ver o filme Comer, Rezar, Amar... li o livro assim q foi lançado e vi o filme somente semana passada e quer saber? odiei.
não tem nada a ver com o livro, enxertaram coisas no filme q nem de longe estavam no livro, fora as coisas importantes do livro q não estavam no filme.
Ah, mas nesse caso específico, o filme é medíocre, independente do livro ou não.
Um filme que eu acho que ficou até melhor do que o livro é o A Mulher do Viajante do Tempo / Te Amarei Para Sempre, que apesar de serem bem próximos, o final do filme eu acho mais coerente do que o final do livro.
Esses eu não li e não assisti ao filme.
Vc que gosta de romance, deve gostar.
Outros exemplos de boas adaptações, que eu li faz pouco tempo: Ilha do Medo, A Estrada.
Valeu pelas dicas...
Crítica ao continuista: se as piriguetes paraenses são todas depiladas, raspadinhas, “preparas”, sempre preparadas para uma relaçãozinha, imagina as prostitutas. Aliás, uma piriguete, mini-piranha e prostituta do sistema são a mesma coisa, não é de um só, é de todos e não é de ninguém ao mesmo tempo, nem dela mesma. Garfe do filme: esqueceram de depilar a Camila.
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