2012-12-05

Filme: E Agora, Aonde Vamos?

Pode parecer que o segundo filme de Nadine Labaki tenha pouco a ver com a sua estreia na direção, a dramédia romântica Caramelo. Entretanto, é possível ver muios pontos em comum com o novo E Agora, Aonde Vamos? (no original, Et maintenant on va où?), sobretudo no olhar sobre as mulheres libanesas em sua cultura.

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E Agora, Aonde Vamos? nos traz a história de um pequeno vilarejo no Líbano, isolado por minas terrestres e acessível apenas por uma pequena passagem. Afastado, esse vilarejo se mantém praticamente alheio ao mundo exterior, a ponto de conseguirem ligar e assistir uma velha televisão ser tratado como um grande evento. Essa falta de contato com o exterior faz com que os homens do vilarejo ignorem os conflitos que aumentam no país por motivos religiosos, a tensão entre católicos e muçulmanos. E esta ignorância é tratada como uma bênção pelas mulheres, que, cansadas de verem seus filhos, maridos e irmãos mortos por uma luta basicamente inútil (como todo conflito religioso o é), fazem de tudo para que as notícias de fora não influenciem ainda mais os ânimos dentro da aldeia.

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Esta é basicamente a trama de E Agora, Aonde Vamos?: a união das mulheres de um vilarejo que, independente da religião de cada uma, buscam manter a paz acalmando os afoitos e emocionais homens, que por qualquer motivo estão prontos para partir para a briga (escalando cada vez mais até as últimas consequências) usando a religião como desculpa. Neste sentido, é interessante ver como as figuras masculinas e femininas se apresentam trocadas em relação aos seus estereótipos, com as mulheres usando a razão e os homens, a emoção, o que prova que esse estereótipo de gênero é uma bobagem.

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Assim como em Caramelo, a diretora Nadine Labaki (que também atua e co-escreve em ambas produções), procura um tom ameno para contar a sua história. Entretanto, em E Agora, Aonde Vamos? ela adota um tom ainda mais de fábula, o que já é notável nas primeiras cenas, em que um grupo de mulheres vestidas de preto, em luto, caminham em direção ao cemitério, e ensaiam uma coreografia. Há números musicais clássicos no filme, como o "sonho" entre Amale, católica, personagem de Nadine, com seu "par romântico" muçulmano (uma relação meio Romeu e Julieta que acaba sendo pouco explorada), ou então quando as mulheres se unem para fazer guloseimas "especialmente recheadas", cantando. Esses números musicais servem para dar um ar mais cômico e leve à trama, e inseridos de maneira orgânica (na forma do sonho, por exemplo), não incomodam como em filmes musicais em que os personagens do nada resolvem cantar e dançar.

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Não pense, entretanto, que este filme é apenas comédia. Apesar do tom de fábula e por vezes caricato, o filme toca em pontos dramáticos bastante comoventes, sempre de maneira sensível, ainda que não fique pesado demais. A história da mãe de um dos garotos que percorre a trilha entre o vilarejo e a cidade grande realizando a única rota de comércio, por exemplo, é bem emocionante.

Apesar de todas as suas qualidades, incluindo aí o final absolutamente genial, a bela fotografia e as ótimas atuações, E Agora, Aonde Vamos? não é livre de pontos baixos. Sem uma linha dramática bem estabelecida do início ao fim, às vezes o filme parece episódico demais, além de subtramas pouco e/ou mal exploradas, como o já citado romance entre a católica e o muçulmano, ou mesmo a vinda de garotas de um clube de strip-tease, contratadas pelas mulheres para servir de distração para os homens e evitar um conflito.

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Enfim, E Agora, Aonde Vamos? é um ótimo filme de uma diretora ainda iniciante, mas que desde o primeiro filme, consegue lançar um olhar sensível e leve sobre o mundo feminino de seu país, mesmo que em obras com temas bem diferentes. E a pergunta do título do filme, cujo sentido dentro da trama fecha a película, deixa um quê de final em aberto, mas também com um tom de esperança. Se devolvêssemos a pergunta à diretora, aonde vamos em seguida, não importa muito a resposta. Pois onde ela nos levar, deverá ser interessante.

Trailer:


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