Sarney inventou a 'cara de cera', que tem dado certo há 50 anos - by Arnaldo Jabor

Transcrição do comentário do Arnaldo Jabor para a rádio CBN, do dia 12/08/2009, sobre Sarney e a sua cara de cera. Não costumo publicar esses comentários, mas esse valeu a pena.

Áudio original disponível no site da CBN (link aqui). E se você quiser ler os comentários anteriores do Arnaldo Jabor, publicados aqui, basta clicar neste link.

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Sarney inventou a 'cara de cera', que tem dado certo há 50 anos


Amigos ouvintes, uma das faces que temos mais visto na política nacional recente não é mais a cara de pau, mas é a cara de cera, a cara imóvel.

José Sarney inventou essa cara e ela tem certo há 50 anos. É uma cara simpática, dividida ao meio por um bigode natural que visceja ali, debaixo do nariz, como uma ilha de cordialidade, quase esboçando um sorriso de tolerância permanente.

Ele e o bigode parecem dizer: "calma, é tudo pouco importante, as coisas se arranjam sozinhas, a cordialidade está acima dos interesses políticos". É a cara de estadista que ele compôs com cuidado, emcimando terno jaquetão sempre impecável, que dizem que é feito de um tecido de Teflon, onde nada gruda.

Bem, no início desta crise, Sarney disse sem querer ou querendo, o seu segredo. Suas 3 palavras mágicas para a eterna intocabilidade: silêncio, paciência e o tempo.

Isso dá certo desde 1966, quando ele foi eleito governador do Maranhão. Parece que nada está acontecendo, que tudo é boato, loucura dos outros, pois o seu rosto de paisagem desaba qualquer acusador. Anteontem ele discursou dizendo que a única coisa de que podem acusá-lo é de ter dado ouvidos a um pedido da sua netinha.

Que lindo. Que fofo. Um avozinho bondoso emprega o namorado da neta, e fica essa oposição maldosa, acusando de outras coisas, de tudo. Só que infelizmente, Senador, que aliás disse também que estão atacando-o para prejudicar o Lula, Senador, os fatos estão aí.

O senhor está sendo acusado não pela netinha fofinha e seu fofo namorado. Contra o senhor, pesam as seguintes denúncias: atos secretos assinados e negados sempre, a empresa de outro netinho (que fofo!) que intermediava créditos para servidores do Senado, um milhão e trezentos mil reais da Petrobrás para a Fundação Sarney, ou seja, o convento que ele desapropriou pra se transformar no Memorial do grande homem, ele mesmo. Também é acusado de ter ocultado uma mansão de 4 milhões em Brasília, fora do imposto de renda...


Mas seu maior feito é o Maranhão. Fora as acusações de conivência com os feitos de seu filho Fernando, etc, etc, seu genro, todas aquelas coisas antigas e esquecidas. Depois de 50 anos no poder, senhores e amigos ouvintes, visitem o Maranhão. É uma bela viagem. Pra enteder quem é Sarney. Se nada aparece no seu rosto, no Maranhão tá tudo escrito ali. Na cara das cidades e das vilas.

Ainda bem que o suplente Paulo Duque, um velho do PMDB que também se lixa pra opinião pública, mandou engavetar tudo. E pronto! Tudo acaba.

E o PT, hein? Que decepção, depois de tudo, dos mensalões, dos dirceusismos, dos 200 mil empregadinhos no estado, depois de esconder as caixas pretas da Petrobrás, de demitir a chefe da Receita Federal, depois de tantas coisas... Agora o PT acabou. De guardião ideológico, dos fisiológicos, do PMDB.

Que decepção...