Tem filmes que a gente escolhe pela sinopse, outros pelo trailer, outros ainda pelos envolvidos no filme, como um diretor ou um ator. Frequentemente eu uso esse último critério, mesmo que às vezes eles me decepcionem (como o recente trabalho de Tom Hanks em Larry Crowne). Entretanto, até agora este não tem sido o caso de Ricardo Darín, cujos filmes anteriores que assisti (Nove Rainhas e o oscarizado O Segredo dos Seus Olhos) me encantaram. Abutres (Carancho, no original) não é tão bom quanto os dois filmes citados do ator, mas ainda assim é ótimo.
Abutres, as aves, não são animais dos mais populares. Se alimentando de carcaças e outros animais moribundos, essas aves são o perfeito retrato de uma indústria que floresce na Argentina: a dos seguros e indenizações sobre vítimas de acidentes de trânsito. Advogados sem muito escrúpulos, "porta-de-hospital", ficam de olho em vítimas de acidentes (ou suas famílias, no caso de acidentes fatais) em busca de um processo que renderá um bom dinheiro, mas repassando-lhes muito pouco do dinheiro recebido (especialmente no caso de acidentados mais humildes sem instrução).
Neste cenário, conhecemos Sosa (Darín), um advogado que está tentando recuperar a sua licença, e que neste meio tempo trabalha para uma dessas firmas de advogados-golpistas. Seu caminho acaba se cruzando com o de Luján (Martina Gusman), uma paramédica que trabalha na emergência indo na ambulância em busca dos acidentados, e que ao mesmo tempo tenta concluir a sua residência. Esses dois estranhos, que convivem diretamente com esse mundo de acidentes e máfia de indenizações, acabam se encontrando e se apaixonando. E quando Sosa tenta deixar para trás esse mundo mafioso da indústria de acidentes e indenizações, as consequências afetarão não só ele, como também Luján.
Filmado de maneira que muitas vezes lembra um documentário, com uma câmera nervosa na mão, Abutres usa muitos planos fechados, focando nos seus dois personagens principais. Isso se revela acertado, uma vez que a atuação tanto de Darín quanto de Gusman (linda aliás), são excelentes e carregam o filme.
Apesar de ótimo, o filme Abutres tem alguns defeitos, como algumas partes mal acabadas do roteiro. O problema de Luján com drogas, por exemplo, ao mesmo tempo em que tem um ponto positivo, que é o de deixar a personagem mais humana, com falhas como todos nós, tem um lado negativo, ao não ser desenvolvido melhor, soando meio falso. Assim como o rápido envolvimento entre Luján e Sosa, que também acaba soando superficial no início (apesar dos mais românticos poderem argumentar que a paixão é assim mesmo, eu diria que se essa paixão houve, não foi bem caracterizada no filme).
Com um plano final espetacular (apesar de um tanto previsível), Abutres, dirigido por Pablo Trapero (que também co-assina o roteiro), é um filme visceral, tanto visualmente quanto no desenvolvimento da sua história e de seus personagens. Sem dúvida, mais um filme para colocar na lista de memoráveis de Ricardo Darín.
Trailer:
Para saber mais: crítica no Cinema em Cena e no Omelete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário